Peter pediu para que eu fosse prestigia-lo na comemoração e, claro, mesmo com todo desânimo que me preenchia, eu fui. Ao chegar no parque, localizado bem no interior do Queens, estava lotado de pessoas com cartazes, crianças fantasiadas e tudo mais. Poderia encontrar com qualquer pessoa naquele dia, mas é claro que ao chegar, eu tinha que esbarrar com ela. Sim, a filha do chefe da polícia. A menina mais recatada da cidade e a mais mimada, claro, a melhor amiga de classe dele e a mais inteligente da universidade. Peter apareceu na mesma hora, apontando sua lente para mim dizendo: "Sorria, menina linda".
Eu me esforcei, juro que me esforcei, mas tudo que saiu foi um sorriso curto e até que a foto teria saído boa, se ela também não estivesse nela. Ele veio em nossa direção, com um sorriso enorme no rosto dizendo:
- Essa é a Gwen Stacy, minha colega de classe.
Eu tentei sorrir com simpatia, mas tudo que saiu foi um sorriso duro antipático.
- Olá Mary Jane, muito prazer! O Peter fala muito de você!
Continuei com meu sorriso parcialmente falso até que ele veio no meu ouvido e disse:
- Eu vou chegar por aquele lado, fica de olho, irei acenar para você.
Ele piscou pra mim e saiu de braços dados com ela, tudo o que eu queria naquele momento era ir embora.
O tempo passou e quando percebi a Stacy já estava no palco do parque, pronta para receber o Aranha, foi então que vi as crianças alvoraçadas, as pessoas gritavam e batiam palma, gritando: "Homem-Aranha! Homem-Aranha!". E lá vinha ele, cumprimentando a todos, sobrevoando a cabeça de cada habitante da cidade, completamente simpático e feliz. Ele estava feliz, pelo menos naquele momento e era isso que importava. Então o Homem-Aranha pairou sobre o palco, deslizando de cabeça para baixo em sua teia enquanto a queridinha da cidade terminava seu discurso. Eu não via a hora daquela cerimônia acabar. Me lembro que nesse mesmo dia poderiamos estar transando, mas o Peter estava salvando a filha do chefe e isso era o mais importante naquele momento. Não quero parecer egoísta, mas faz tempo que não transamos e isso já está se tornando um problema da minha parte.
Foi então que voltei ao mundo real e, quando vi, me deparei com aquela cena.
Eu não conseguia acreditar que aquele momento estava se reproduzindo e não era comigo. Eu vi a Gwen abaixar a máscara do Aranha até a altura de seu nariz e sim: eu a vi beija-lo. Ela o beijou da mesma forma do nosso primeiro beijo e eu não conseguia aceitar que estava vendo aquilo. E essa foi a deixa para eu me virar e ir para casa.
Chegando no meu apartamento, eu já me encontrava em lágrimas e, logo quando entrei, minha gatinha Callisto se manifestou. Miou pedindo comida mas eu não conseguia pensar em nada a não ser sumir. Meu apartamento não era muito diferente do dele, porém mais organizado. Eu sempre prezei por minhas coisas no lugar. Um apartamento com apenas três cômodos, poucos móveis, poucos eletro-domésticos e flores, bastante flores na minha varanda. Eu as amava.
Meu longo choro durou desde o momento em que cheguei até a noite, foi quando adormeci sem ao menos perceber.
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