quinta-feira, 31 de julho de 2014

Capítulo 1

  Eu não sei nem por onde começar. Eu estava numa fase ruim, onde me sentia invisível e mal amada. Tudo isso por causa da crítica negativa que fez minha carreira desandar. Jamais havia me sentindo tão insignificante com uma crítica negativa, mas essa crítica fez com que a minha semana fosse de mal a pior. Tudo o que eu precisava era da atenção dele, e eu não tinha, pois na mesma semana o Homem-Aranha iria receber a chave da cidade. Eu tinha que apoiar o Peter, era o meu dever, mas ele estava tão cego pela fama que esqueceu que eu também precisava de apoio. Mas eu não o culpo, era uma semana importante para ele. 
Peter pediu para que eu fosse prestigia-lo na comemoração e, claro, mesmo com todo desânimo que me preenchia, eu fui. Ao chegar no parque, localizado bem no interior do Queens, estava lotado de pessoas com cartazes, crianças fantasiadas e tudo mais. Poderia encontrar com qualquer pessoa naquele dia, mas é claro que ao chegar, eu tinha que esbarrar com ela. Sim, a filha do chefe da polícia. A menina mais recatada da cidade e a mais mimada, claro, a melhor amiga de classe dele e a mais inteligente da universidade. Peter apareceu na mesma hora, apontando sua lente para mim dizendo: "Sorria, menina linda".
  Eu me esforcei, juro que me esforcei, mas tudo que saiu foi um sorriso curto e até que a foto teria saído boa, se ela também não estivesse nela. Ele veio em nossa direção, com um sorriso enorme no rosto dizendo:
- Essa é a Gwen Stacy, minha colega de classe. 
Eu tentei sorrir com simpatia, mas tudo que saiu foi um sorriso duro antipático.
- Olá Mary Jane, muito prazer! O Peter fala muito de você!
Continuei com meu sorriso parcialmente falso até que ele veio no meu ouvido e disse:
- Eu vou chegar por aquele lado, fica de olho, irei acenar para você.
Ele piscou pra mim e saiu de braços dados com ela, tudo o que eu queria naquele momento era ir embora. 
  O tempo passou e quando percebi a Stacy já estava no palco do parque, pronta para receber o Aranha, foi então que vi as crianças alvoraçadas, as pessoas gritavam e batiam palma, gritando: "Homem-Aranha! Homem-Aranha!". E lá vinha ele, cumprimentando a todos, sobrevoando a cabeça de cada habitante da cidade, completamente simpático e feliz. Ele estava feliz, pelo menos naquele momento e era isso que importava. Então o Homem-Aranha pairou sobre o palco, deslizando de cabeça para baixo em sua teia enquanto a queridinha da cidade terminava seu discurso. Eu não via a hora daquela cerimônia acabar. Me lembro que nesse mesmo dia poderiamos estar transando, mas o Peter estava salvando a filha do chefe e isso era o mais importante naquele momento. Não quero parecer egoísta, mas faz tempo que não transamos e isso já está se tornando um problema da minha parte.
Foi então que voltei ao mundo real e, quando vi, me deparei com aquela cena. 
Eu não conseguia acreditar que aquele momento estava se reproduzindo e não era comigo. Eu vi a Gwen abaixar a máscara do Aranha até a altura de seu nariz e sim: eu a vi beija-lo. Ela o beijou da mesma forma do nosso primeiro beijo e eu não conseguia aceitar que estava vendo aquilo. E essa foi a deixa para eu me virar e ir para casa. 
  Chegando no meu apartamento, eu já me encontrava em lágrimas e, logo quando entrei, minha gatinha Callisto se manifestou. Miou pedindo comida mas eu não conseguia pensar em nada a não ser sumir. Meu apartamento não era muito diferente do dele, porém mais organizado. Eu sempre prezei por minhas coisas no lugar. Um apartamento com apenas três cômodos, poucos móveis, poucos eletro-domésticos e flores, bastante flores na minha varanda. Eu as amava. 
Meu longo choro durou desde o momento em que cheguei até a noite, foi quando adormeci sem ao menos perceber.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Intro

 Estava chovendo um pouco, o suficiente pra ter deixado a rua completamente molhada. 
Minha respiração era falha, pois eu só espirava a cada teia que soltava. Não sabia mais pra onde correr, nem para onde pular. Ele estava completamente na minha de novo, quer dizer, na minha cola pra acabar com a minha vida. Eu sobrevoava os prédios na velocidade que podia no momento. Já estava naquilo há horas e ele não desistia. Não me deixava em paz. Já estava no seu liame e eu a ponto de virar em sua direção e mostrar para ele que o meu interior está intacto, o mesmo. Mas infelizmente não podia, não podia me arriscar e acabar com a minha vida. Ele já estava querendo fazer esse favor e eu não podia lhe entregar isso tão fácil, para que pudesse voltar pra sua casa e contar sua vitória à vadia filha do chefe da polícia. 
Sim, ela mesma. 
 E nessa perseguição que meus sentidos falharam e os dele deram um passo a frente, afinal, ele estava nessa vida de oito patas há mais tempo que eu. Ele conseguiu cortar a minha teia com a dele, mas eu pude perceber em seu olhar pelo reflexo que foi um momento de sorte, ele estava muito exausto para ter pensado naquilo sozinho. Foi entao que caí com tudo no chão, me machuquei por completa e minha blusa já tinha virado uma flanela. Quando percebi estava semi-nua, minha roupa se rasgou quase toda pelo asfalto, meu rosto estava bastante arranhado, meus braços sangravam com um corte de quinze centímetros e mais uma vez eu não teria conseguido sair dali sem ele. Me encontrei em seus braços e tudo o que eu ouvi antes de desmaiar foi: "Por que, Mary Jane?